Alimentação e festas de fim de ano - Artigos Projeto de Extensão @nossosalimentos_uenf
Alimentação e festas de fim de ano
Panetone engorda? Cerveja e rabanada aumentam a “gordura da barriga”? Existe dieta desintoxicante? Estas são algumas dúvidas muito comuns na época das festas de fim de ano e acabam sendo temas recorrentes em revistas populares, telejornais e, claro, não poderíamos deixar de comentar também aqui no blog da Ciência da UENF
Não existe alimento que engorda e nem que emagreça (talvez que emagreça sim, conforme discutido na matéria “alimentos calorias negativas”). O que leva um indivíduo a ganhar ou perder peso é o desequilíbrio energético diário. Para entender melhor o que isso significa, suponhamos que um indivíduo necessite de uma quantidade diária de energia de 1500 Kcal.
Se ele comer somente
panetone, até cinco fatias (1350 kcal), a quantidade de energia fornecida ao
seu organismo ainda seria inferior ao que ele necessita e, neste caso, ele
perderia peso.
Entretanto, se além
de uma fatia de panetone (270 kcal), este mesmo indivíduo ingerir duas fatias
de rabanada (477 kcal), duas latas de cerveja de 350ml (286 kcal), duas porções
de castanha portuguesa (190 kcal), duas fatias grossas de peito de chester (100
kcal), duas colheres de servir de arroz (128 Kcal) e três colheres de sopa de
farofa simples (180 kcal), isso totalizaria 1631 kcal.
Observe que o
somatório energético é superior ao que o indivíduo necessita diariamente e,
provavelmente, poderia levar a pequeno ganho de peso corporal (teoricamente, em
torno de 14,5 gramas).
Portanto, não será o
panetone, nem nenhum dos alimentos isoladamente que o engordará, mas sim o
conjunto dos alimentos que ele ingeriu no dia. Ainda poderíamos dizer um pouco
mais: este excedente de 131 kcal poderia ser anulado com uma restrição
alimentar ou aumento da atividade física em dias subsequentes. Mas se este
excedente de energia for repetido por dias consecutivos, certamente acarretará
aumento de peso com ganho de gordura corporal.
Muitas vezes o ganho
de peso corporal devido ao suprimento energético maior que o gasto com
atividades físicas não é percebido rapidamente. Por exemplo, se esta pessoa,
diariamente, ganhar 14,5 gramas de gordura (quantidade imperceptível), no final
do mês ele terá engordado, aproximadamente, 500 gramas, o que ainda não é fácil
de ser percebido, pois pode ficar camuflado com a oscilação do peso devido à
retenção de água e fezes.
O ganho de peso pode estar associado também ao aumento dos músculos. Mas no caso de indivíduos sedentários e sem alimentação equilibrada, o excesso de gordura é a causa mais comum do ganho de peso. A perda de peso, por outro lado, não necessariamente envolve só perda de gordura, mas também de proteínas corporais (ex. músculos) e água. Quem faz restrição alimentar exagerada perde gordura e músculos!
Em relação às bebidas alcoólicas, não existe comprovação científica da relação direta entre consumo de cerveja, por exemplo, e aumento de gordura abdominal. Mesmo assim, o álcool deve ser evitado. Ingerir bebidas alcoólicas em excesso e em longo prazo contribui para o surgimento de câncer de boca, esôfago, laringe, faringe, cirrose e outras doenças. Estas bebidas também contribuem para desidratação pela elevada formação de urina, que resulta em dor de cabeça e mal estar (ressaca).
Para amenizar o
efeito desidratante do álcool, é aconselhável a ingestão de muita água (35 mL
por kg de peso corporal é a quantidade de água que se deve ingerir diariamente
em condições normais). A cor da urina, normalmente tida como referência para
verificação do estado de hidratação, não pode ser utilizada quando se consome
excesso de bebida alcoólica. Quando se ingere pouco líquido, a urina tende a
ficar mais concentrada (portanto, mais amarelada), enquanto a cor clara indica
boa hidratação. Entretanto, o álcool faz com que a urina fique
clara, mesmo que o indivíduo esteja desidratado.
Devido aos excessos (alimentos e bebidas) nas épocas festivas, é também comum aparecer na mídia dietas desintoxicantes, isto é, que promovem a limpeza do corpo. Isto também é um mito. Estas dietas ditas desintoxicantes são ricas em substâncias antioxidantes e água. Os antioxidantes não possuem capacidade de limpar o organismo, mas sim de reduzir a formação de substâncias que danificam as células por reação de oxidação ou de neutralizá-las.
As reações de
oxidação, de formação de radicais livres e de substâncias oxidantes ocorrem a
todo o momento em qualquer ser vivo e durante a vida inteira, e não somente em
humanos durante festas de fim de ano. Por isso, é recomendado estar sempre
hidratado, consumir vegetais diariamente e evitar alimentos com elevado teor de
gordura, carboidrato e sal (rever matéria “alimentação adequada”).
Muitos tipos de
dietas são criados sem respaldo científico e, muitas vezes, por serem muito
restritivas, exigem drástica mudança no hábito alimentar.
Práticas assim
dificilmente são sustentadas. O indivíduo tende a abandonar a dieta muito
rapidamente e a ficar cada vez mais arredio com relação a seguir uma
alimentação saudável. Segundo o Conselho Nacional de Saúde dos EUA, 95% das
pessoas que seguem dietas sem educação nutricional retornam ao peso anterior à
dieta em até cinco anos.
Se possível,
consulte um nutricionista. Entre outras coisas, ele lhe informará a sua
necessidade energética diária e planejará sua alimentação com produtos de sua
preferência, explicando os que você poderá ingerir diariamente e os que deverá
ingerir esporadicamente. Devido às particularidades de cada pessoa, uma dieta
adequada e agradável para um pode não ser para outros. Dietas não devem ser
copiadas!
Boas festas!
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