Batata doce... Há controvérsia sobre seus poderes! - Artigos Projeto de Extensão @nossosalimentos_uenf
Batata doce... Há controvérsia sobre seus poderes!
A batata-doce, também denominada
batata-da-terra, jatiba ou batata-da- ilha, é uma planta rústica, com baixo
custo de produção e de fácil cultivo, tendo como principal característica o
elevado teor de carboidrato. Portanto, é um alimento energético.
A batata doce ganhou muito espaço na mídia, sendo atribuída a ela a capacidade de propiciar ganho de massa muscular e reduzir a gordura corporal. Sendo assim, seu consumo aumentou imensamente, se tornando o alimento energético preferido, principalmente entre praticantes de atividades físicas.
Porém, esses atributos não são exclusivos da batata doce. Ela é, sem dúvida, um bom alimento. Mas não superior a outros nestes aspectos. Dessa forma, nosso objetivo neste texto é esclarecer suas reais vantagens. Na Tabela 1, são mostrados os teores de alguns nutrientes na batata doce, batata inglesa, inhame, abóbora e mandioca. Estas informações foram obtidas do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) e da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
Os dados de composição química de alimentos devem ser interpretados com cautela, pois a composição dos alimentos pode variar de acordo com a variedade, local de cultivo, grau de maturação, modo de preparo dentre outros fatores. Portanto, o alimento preparado em sua residência pode ter um valor nutritivo diferente do apresentado em uma tabela de composição de alimentos. Entretanto, podemos afirmar sobre a composição dos alimentos que há grupos de alimentos que tem quantidade expressiva de algum nutriente. Por isso, embora, na Tabela 1, conste teores de fibras, vitamina C e A na batata-doce, outros grupos de alimentos são fontes mais expressivas e seguras destes nutrientes.
As principais fontes alimentares de vitamina A são as hortaliças, principalmente as folhas verde escuras, e as frutas amarelas, alaranjadas ou vermelhas. Exemplo é a abóbora, que é um fruto cuja composição é apresentada na Tabela 1 para comparação.
Quanto à vitamina C, as principais fontes são, indiscutivelmente, as frutas. A vitamina C é facilmente degradada quando o alimento é aquecido: quanto maior o tempo e temperatura de aquecimento, maior a extensão da degradação. Por este motivo, embora conste na literatura a presença de vitamina C na batata doce e em outros alimentos cozidos, o alimento preparado em sua residência pode não ter vitamina C ou ter quantidade bem menor que a especificada na literatura. Algumas frutas, como a laranja e a goiaba, possuem até quatro vezes mais vitamina A e C que a batata-doce.
Com relação às fibras, as frutas e Hortaliças são também as principais fontes alimentares.
Outro nutriente que chama a atenção na Tabela 1 é o mineral cobre. Nota-se que a batata inglesa e a abóbora parecem conter elevados teores de cobre. Entretanto, as principais fontes dietéticas de minerais são as carnes e laticínios, que são também excelentes fontes de vitaminas do complexo B. As carnes são fontes de ferro, cobre, zinco, dentre outros, exceto o cálcio. Os laticínios — principalmente o queijo, leite e iogurte —são as principais fontes de cálcio.
As raízes e tubérculos — como as
batatas, mandioca, cará, batata baroa e inhame — se destacam, principalmente,
como fontes de potássio e de carboidrato. São alimentos energéticos, estas são
suas principais características. O inhame, por exemplo, é tão energético quanto
à batata doce e à mandioca, talvez até um pouco mais. A batata doce, batata
baroa e a cenoura são exceções quanto aos teores de vitamina A. A cenoura é um
dos alimentos mais ricos nesta vitamina, podendo conter até 1000 microgramas em
100 gramas, além de ser também rica em fibras e ter baixíssimo teor de
carboidrato e valor energético.
Em algumas situações, é recomendável a ingestão de alimentos com baixo índice glicêmico, por exemplo, diabéticos, obesos e indivíduos com tendência a hipoglicemia. Isso porque quanto maior o IG, mais alta será a glicemia após a ingestão do referido alimento. Em consequência, maior será o estímulo para a secreção do hormônio insulina, que atua promovendo a captação da glicose do sangue para dentro das células. Como consequência, tem-se, dependendo da quantidade ingerida e requerimento energético, ganho de gordura corpórea e aumento do apetite. Os carboidratos dos alimentos com baixo IG são absorvidos lentamente, mantendo a glicemia mais baixa, estimulando a produção de insulina de forma menos intensa e dando saciedade por mais tempo.
Por outro lado, no caso de atletas e
praticantes de atividade física, o recomendado é a ingestão de carboidratos de
fácil digestão logo após a atividade física. Isso porque a primeira ordem do
organismo após uma atividade física é repor o glicogênio muscular degradado.
Após isso é que pode ocorrer a síntese de massa muscular e reposição das fibras
musculares degradadas. Portanto, após a atividade física intensa, o melhor são
alimentos com alto índice glicêmico.
Caso a alimentação do atleta, após a atividade física, propicie maior absorção
de proteínas (ou aminoácidos) que de glicose, estes serão utilizados para fins
energéticos e síntese de glicogênio.
Pesquisas sobre a alimentação dos índios e negros ressaltam que a base de sua alimentação eram alimentos ricos em carboidratos, tais como o cará e a mandioca. Estes indivíduos possuíam elevada resistência física e corpo musculoso. Este fato é explicado à luz da bioquímica.
A síntese de massa muscular é
resultado de atividade física e alimentação balanceada. Em uma alimentação
balanceada, a maior proporção da energia deve vir de carboidratos, que, além de
fornecer energia, participam na desintoxicação do organismo e da síntese de
grande parte das proteínas. Por outro lado, se a ingestão de proteína for
elevada demasiadamente, ela será usada como fonte de energia em lugar dos
carboidratos, o que resultará em maior formação e excreção de uréia. A uréia
precisa ser excretada pela urina e para dissolvê-la é necessária maior quantidade
de água, o que pode desidratar o indivíduo. O efeito desidratante do excesso de
proteína na alimentação é facilmente observado na rápida e elevada perda de
peso logo que se começa uma dieta pobre em carboidrato e rica em proteína,
momento em que pode ocorrer perda em torno de quatro quilos na primeira semana
de dieta, praticamente só de água.
De acordo com o livro “A Dieta de Índice Glicêmico”, escrito por Rick Gallop e publicado em 2006, o índice glicêmico (IG) da batata-doce é 77, o da batata inglesa é 121 e do inhame é 73. Porém, Foster-Powell et al. (2002) fizeram uma vasta revisão sobre índice glicêmico de alimentos e encontraram dados bem variados. Estes pesquisadores encontraram 5 estudos realizados com batata doce nos quais o IG variou de 44 a 78. Sobre a batata inglesa, 23 estudos e o IG variou de 23 a 101. Com o inhame, 6 estudos com o IG variando de 21 a 68. Sobre a mandioca, apenas 1 estudo e IG de 46; sobre a abóbora também apenas um estudo e IG variando de 66 a 84. Sobre o cará seis estudos com IG de 21 a 63.
Apesar de toda a fama da batata doce,
ela é um alimento energético e possui índice glicêmico similar aos alimentos do
grupo do qual faz parte — raízes e tubérculos (batata inglesa, mandioca, cará,
inhame etc).
Quanto ao fato de contar com a batata doce como fonte de vitamina C e de vitamina A, não é conveniente. Nesses casos, é melhor escolher as frutas e hortaliças folhosas. Portanto, não é correto atribuir a ela a capacidade milagrosa ou exclusiva de aumentar a massa muscular.
Uma alimentação balanceada e
completa, contendo as quantidades necessárias de frutas, hortaliças,
laticínios, carnes e/ou similares, azeite, leguminosas e cereais é o mais
indicado para quem quer estar em forma e saudável!
Referências Bibliográficas:
BRASIL. Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA).
Resolução RDC nº 269 de 23 de setembro de 2005. Regulamento técnico sobre a
ingestão diária recomendada (IDR) de proteína, vitaminas e minerais. 2005.
GALLOP, R. Dieta do índice glicêmico. Editora: Sextante,
V.1, 144 páginas, 2006.
NELSON, D. L.; COX, M. Lehninger – Princípios de Bioquímica. 3ed. São Paulo: Sarvier, 2002. 1009p.
NEPA – UNICAMP. Tabela brasileira de composição de alimentos. 4. ed. Campinas: NEPA- UNICAMP, 2011. 161 p.
POWELL, K. F.; HOLT, S. H. A.; MILLER, J. C. B. International table of glycemic index and glycemic load values. 2002. Am J Clin Nutr. V.75, p 5-56, 2002.
USDA – Agricultural Research Service United Strates Department of Agriculture. Disponível em : http://ndb.nal.usda.gov/ndb/foods. Acesso em: 8 de janeiro de 2015.
WIKIPÉDIA: a enciclopédia livre. Disponível em: <www.wikipedia.org>.Acesso: 13 de janeiro de 2015.
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