Carboidratos: um grupo de nutrientes com diferentes comportamentos e funções no organismo - Artigos Projeto de Extensão @nossosalimentos_uenf
Carboidratos: um grupo de nutrientes com diferentes comportamentos e funções no organismo
Os carboidratos fazem parte de um
grupo de compostos que tem em comum o fato de possuírem uma molécula de água
para cada átomo de carbono. Daí a denominação de hidrato de carbono, carbono
hidratado ou carboidrato. Os carboidratos mais simples possuem de três a seis
átomos de carbonos.
A glicose, frutose e galactose possuem seis átomos de carbono e são as unidades
básicas dos principais carboidratos da alimentação. Elas se ligam entre si ou
umas às outras para formar a sacarose, lactose, amido, as fibras alimentares,
dentre outros carboidratos, cada um com características distintas. Podem
apresentar diferenças na intensidade do gosto doce, solubilidade em água,
capacidade de serem digeridos, absorvidos e a maneira como são metabolizados
pelo organismo.
A glicose é o mais comum dos açúcares e essencial para o funcionamento de
muitos órgãos. A frutose é o mais facilmente metabolizado e, se ingerido em
excesso, pode trazer sérios problemas para a saúde. Algumas pessoas não
metabolizam a galactose e isso deve ser identificado logo no
nascimento. No decorrer da vida, muitos indivíduos perdem a capacidade de
digerir a lactose, o que pode causar desconforto no sistema digestório, mas não
alergia. Estas informações são melhor detalhadas em outras matérias deste blog.
A glicose, frutose, galactose e seus derivados — sacarose, lactose e maltose — possuem gosto doce e são, coletivamente, denominados de açúcares ou monossacarídeos. Já os formados por mais de vinte unidades de glicose, frutose, derivados da galactose ou mistura destes podem ser digeríveis ou não digeríveis e são, coletivamente, denominados polissacarídeos. Os principais polissacarídeos digeríveis são a amilose, a amilopectina e maltodextrina - todos formados por glicose. Já os principais não digeríveis são a celulose (formada por glicose), a pectina (formada por um derivado da galactose), os frutooligossacarídeos (formados por frutose) e a hemicelulose (formada por diversos monossacarídeos). Os carboidratos não digeríveis constituem as fibras alimentares.
Nos animais, após serem absorvidos,
os carboidratos podem fornecer energia, participar na eliminação de substâncias
tóxicas ou serem transformados em proteínas, gorduras, colesterol e outras
substâncias importantes para o organismo. A quantidade de carboidratos no
corpo dos animais é bem limitada porque a capacidade dos animais para armazenar
carboidratos é muito pequena. Em um adulto bem alimentado, a quantidade de
carboidrato armazenada fica entre 300 e 500 gramas, o que não equivale nem a 1%
do peso corporal.
Após uma refeição rica em
carboidrato, com quantidade que ultrapassa a necessidade momentânea de energia
e de síntese de substâncias essenciais, todo o excedente de carboidrato é
transformado em gordura, que vai sendo armazenada no tecido adiposo. Como
resultado, a pessoa engorda, podendo também ficar com os níveis sanguíneos de
triglicerídeos e lipoproteínas de baixa densidade elevados (Ex. LDL).
Por outro lado, com uma alimentação
pobre em carboidrato, as proteínas ingeridas ou até mesmo as do corpo serão
transformadas em carboidrato para manter os níveis de glicose no sangue dentro
da faixa necessária para que a pessoa não morra. Portanto, se uma alimentação
com excesso de carboidrato não é saudável, uma alimentação sem carboidrato
também não é saudável, além de ser muito difícil de ser seguida.
Poucos alimentos não contêm carboidratos ou os contêm
em quantidades desprezíveis. Estes alimentos são do reino animal, como as
carnes, ovos, manteiga, determinados queijos e os óleos. Por outro lado, todos
os alimentos de origem vegetal, além do mel, do leite, iogurtes e outros
laticínios, possuem algum tipo de carboidrato.
A Organização Mundial de Saúde recomenda que a quantidade de carboidrato na alimentação deve ser tal que forneça, diariamente, em torno de 60% da quantidade de energia necessária para o indivíduo saudável. Por exemplo, em uma dieta de 2000 Kcal/dia, 1200 Kcal deve ser proveniente de carboidrato, o que corresponde a 300 gramas de carboidrato. Quanto maior a ingestão energética, maior deve ser a quantidade de carboidrato na dieta. Entretanto, há estudos apontando que a quantidade de carboidratos em uma dieta poderia ser em torno da que fornece 50% do valor energético desta dieta.
A partir dos anos 2000, foram intensificados os estudos relacionados à ingestão de tipos específicos de carboidratos. Com base nos resultados destes estudos, a Organização Mundial de Saúde, em 2007, solicitou que seja dada ênfase às fontes alimentares de carboidratos mais saudáveis, tais como os alimentos que possuem menor quantidade de açúcares, maior quantidade de fibra e que sejam mais nutritivos. Neste sentido, os melhores alimentos são as hortaliças, frutas, leguminosas e cereais integrais. Estes alimentos possuem combinação de carboidratos digeríveis e não digeríveis, além de possuírem outros nutrientes e substâncias benéficas para a saúde. Nas tabelas 1 a 3 são apresentados os teores de carboidratos, fibras e o valor energético de alguns alimentos.
Referências
Bibliográficas:
COX, M. M.; NELSON, D. L. Princípios de Bioquímica de
Lehninger. 5ª edição, Artmed, 2011, 1274p.
FENNEMA, O. R; PARKIN, K.L.; DAMODARAN, S. Química de alimentos de Fennema. 4ª edição, ARTMED, 2010, 900p.
NISHIDA, C.; NOCITO, F. M. -
FAO/WHO Scientific Update on carbohydrates in human nutrition:
introduction - European Journal of Clinical Nutrition, 2007. V.1, p. 1-4. doi:10.1038/sj.ejcn.1602935.
MANN, J. Dietary
carbohydrate: relationship to cardiovascular disease and disorders of
carbohydrate metabolism - European Journal of Clinical Nutrition, 2007.
V.1, p. 100–111.
MANN, J.; CUMMINGS, J. H. et al. - FAO/WHO
Scientific Update on carbohydrates in human nutrition: conclusions -
European Journalof Clinical Nutrition, 2007. V.1, p. 132-137.
SCHWINGSHACKL, L.; HOFFMANN, G. – Long term effects of low fat diets either low or high in protein on cardiovascular and metabolic risk factors: a systematic review and metaanalysis - Nutrition Journal, 2013. V.12, p. 48.
MAUGHAN, R. - Carbohydrate metabolism – Basic Science, 2013. V.1, p. 273-277.
THIBAULT, L. - Paradoxical
effects of a high sucrose diet or effects of nutritional inadequacy? -
Appetite, 2003. V.41, p. 103.
JOHN, S. W.. - Challenging the Fructose Hypothesis: New Perspectives on Fructose Consumption and Metabolism - American Society for Nutrition, 2013. V. 4, p. 246-256.
NEPA – UNICAMP. Tabela brasileira de composição de alimentos. 4. ed. Campinas: NEPA- UNICAMP, 2011. 161 p. Disponível em http://www.unicamp.br/nepa/taco. Data de acesso: 20/02/2015.
KIMBER, L. et al. - Consuming fructose-sweetened, not glucose-sweetened, beverages increases visceral adiposity and lipids and decreases insulin sensitivity in overweight/obese humans - The Journal of Clinical Investigation, 2009. V.119, p. 1322-1334.
AGRICULTURAL RESEARCH SERVICE UNITED STATES DEPARTMENT OF AGRICULTURE - Disponìvel em : http://ndb.nal.usda.gov/ndb/foods. Acessado em: 26 de agosto de 2014.
Comentários
Postar um comentário
Os comentários serão moderados.