Dieta low carb - Artigos Projeto de Extensão @nossosalimentos_uenf
A
'dieta low carb” está na moda. Muitas
pessoas procuram um nutricionista pedindo uma dieta “low carb”. Afinal, o que é
uma dieta low carb? Este tipo de dieta emagrece? Faz bem para a saúde? Pode
ser seguida por qualquer pessoa?
Ainda não existe uma definição precisa do que seria uma dieta low carb. Na tradução do termo em
inglês, low carb significa
baixo carboidrato. Portanto, seria uma dieta com restrição de carboidratos. Na
prática, supõe-se que a restrição de carboidratos direcionaria o organismo para
utilizar gordura como fonte de energia. Entretanto, para isso ocorrer, a
ingestão
Portanto, 225 gramas fornecerão 900 Kcal. É importante salientar que as dietas com menos carboidrato levam à mudança no equilíbrio dos nutrientes, acarretando maior consumo de gordura e de proteínas (Naude et al., 2014), como mostrado na Figura 1.
Embora as dietas low carb não sejam dietas com exclusão completa de carboidratos, os alimentos selecionados para ela são alimentos em geral com baixo teor de carboidratos e elevados teores de gordura ou proteínas. Ressalta-se que não há exclusão do carboidrato, mas moderação do consumo de suas fontes dietéticas. Na Figura 2 são apresentados alimentos usuais em refeições com quantidades normais de carboidrato e refeições low carb.
Nas dietas com restrição de carboidrato há consumo de todos os queijos, incluindo os amarelos, manteiga, ovos, castanhas, nozes, carnes de todos os tipos, frutas, gorduras e frutas com baixas quantidades de carboidrato. Já Nas dietas com maior proporção de carboidratos são incluídas frutas ricas em carboidratos, cereais integrais, raízes, queijos brancos e carnes magras.
Observe que, mesmo na dieta low carb, o arroz integral permanece, uma vez que este tipo de dieta não exclui o carboidrato, apenas o reduz. Outros alimentos ricos em carboidratos, tais como feijão, batata, macarrão, aveia, etc, podem fazer parte da alimentação de baixo teor de carboidrato, desde que consumidos na quantidade correta.
Os estudos sobre dieta low carb e perda de peso apontaram o seguinte:
1) qualquer tipo de dieta que diminua o consumo de
energia (calorias) resultará em perda de peso e mudanças favoráveis nos exames
e funções orgânicas (Westman et al., 2007). Na prática, as dietas low carb são mais restritas, o que
favorece menor consumo de alimentos e, consequentemente, menor ingestão
energética e maior perda de peso, principalmente nas primeiras semanas ou
meses seguindo esta dieta.
2) A adesão prolongada a uma dieta low carb (que é também cetogênica)
parece ser difícil. Uma dieta não cetogênica, fornecendo 100-150 gramas de
carboidrato por dia pode ser mais prática e fácil de ser seguida (Brouns,
2018).
3) Não há resultados de pesquisas que apoiem a
eficácia, a segurança e os benefícios para a saúde das dietas low carb a longo prazo (Brouns. 2018).
4) Estudo comparando dieta low carb versus dieta com baixo teor de gordura, com a mesma quantidade de calorias, mostrou que estas dietas não apresentam resultados diferentes em relação à perda de peso, pressão arterial, glicemia de jejum, insulina, resistência à insulina e proteína C-reativa. Por outro lado, nas dietas low carb, houve maiores reduções nos triglicerídeos e aumento no colesterol HDL (bom colesterol), mas também do LDL (colesterol ruim) (Wycherley et al., 2010).
5) As dietas com restrição de calorias e com
quantidades normais ou reduzidas em carboidrato resultaram em similar perda de
peso e maior proteção para doenças cardiovasculares, porém não acarretaram
diferenças na pressão arterial, LDL, HDL, colesterol total, triglicerídeos e
glicemia de jejum (Naude et al., 2014).
Os estudiosos concluíram que as dietas com baixo teor de carboidratos parecem
ser tão eficazes quanto as dietas com baixo teor de gordura para a perda de
peso, desde que ambas sejam com baixo valor energético. No entanto, os efeitos benéficos à saúde
(perda de peso, redução de glicemia e aumento do colesterol bom) e os efeitos
negativos (aumento do colesterol ruim) devem ser avaliados
individualmente.
|Ingestão de proteína e dieta low carb|
Quando
se propõe uma redução do teor de carboidrato, há um aumento proporcional da
gordura e da proteína na alimentação.
O
papel da proteína nesse processo de perda de peso deve ser melhor explorado.
O efeito da dieta low carb ou
com alto teor de proteínas foi comparado em um estudo no qual foram
administradas dietas com baixa versus normal ingestão de carboidratos e alta
versus normal ingestão de proteína. Os resultados demonstraram que, apesar de
todas as quatro dietas promoverem a perda de peso, uma quantidade relativamente
alta de proteína apresentou melhores resultados que a baixa ingestão de
carboidratos. Até mesmo uma dieta com quantidade normal de carboidratos, mas
alta em proteína mostra melhor manutenção de peso. A dieta rica em proteína
demonstrou ainda provocar redução da ingestão energética. Aparentemente isso
demonstra que esse tipo de dieta levou ao aumento da saciedade, embora este
parâmetro não tenha sido avaliado diretamente (Johnstone et al., 2008).
Para perda e manutenção do peso, deve-se atentar tanto para a saciedade quanto
para a preservação da massa magra. A ingestão adequada de proteína ajuda
a satisfazer essas duas condições. Portanto, a ingestão de proteína deve ser
mantida dentro do recomendado, mesmo com a restrição energética. Além disso, a ingestão adequada de proteínas é
benéfica para a composição corporal, melhora a pressão arterial e reduz o risco
de recuperar o peso. O sucesso da dieta low carb, que é rica em proteínas, pode ser atribuída mais ao
conteúdo relativamente alto de proteína do que à restrição de carboidratos
(Westerterp-Plantenga et al., 2012).
|Dieta low carb e risco à saúde|
Com a popularidade das dietas low carb e, consequentemente, redução no consumo de carboidratos, há probabilidade de que alguns grupos populacionais tenham ingestão deficiente de ácido fólico. A deficiência de ácido fólico durante a gestação acarreta má formação do feto, causando, especificamente, anencefalia e espinha bífida, conjuntamente denominadas de “defeito do tubo neural”. A anencefalia é a ausência de cérebro e as crianças com esta má formação nascem mortas ou morrem logo após o nascimento. A espinha bífida é o não fechamento da coluna vertebral. As crianças com esta má formação podem apresentar diversos problemas, tanto físicos como no funcionamento do organismo, tais como problemas intestinais, renais, neurológicos, paralisia dos membros inferiores, problemas ortopédicos dentre outros, e irão requerer cuidados especiais durante toda a vida.
O ácido fólico é uma vitamina encontrada, principalmente, em vegetais folhosos. Em sua forma natural é facilmente destruída durante o cozimento dos alimentos, o que contribui para tornar sua deficiência um sério problema de saúde pública em todo o mundo. Para prevenir esta doença, diversos países, inclusive o Brasil, tornaram obrigatório o enriquecimento das farinhas de trigo e de milho com uma forma de ácido fólico resistente ao calor. Sendo assim, a ingestão destas farinhas e de alimentos preparados com elas é uma forma de garantir o consumo adequado de ácido fólico e a prevenção do nascimento de crianças com má formação do tubo neural. Portanto, se gestantes excluírem estes alimentos de suas dietas, o objetivo do enriquecimento destas farinhas pode ser perdido.
Para sanar esta dúvida, um grupo de pesquisadores desenvolveu uma pesquisa avaliando a ingestão alimentar de gestantes e o estado de saúde dos bebês após o nascimento.
A ingestão de ácido fólico entre as mulheres com restrição de carboidratos foi menor do que as mulheres que ingeriam carboidrato normalmente. As mulheres com ingestão restrita de carboidratos tinham 30% mais chances de ter filhos com anencefalia ou espinha bífida (Desrosiers et al., 2018).
Sendo assim, fica o alerta para a população: a restrição do consumo das farinhas de trigo, de milho e seus derivados pode acarretar uma ingestão inadequada de ácido fólico, cuja deficiência causa problemas seríssimos e irreversíveis para o “bebê”.
Conclusões
2) Dietas restritas em carboidrato são mais efetivas nas primeiras 12 semanas, mas, com o passar do tempo, seu efeito na perda total de peso se iguala a outras dietas.
Referências bibliográficas
BROUNS, F. Overweight and diabetes prevention: is a low-carbohydrate–high-fat diet recommendable? Eur. J. of Nutr.(2018) 57:1301–1312.
DESROSIERS, T.A, et al. Low carbohydrate diets may increase risk of neural tube defects. National Birth Defects Preventio (2018) 25-33.
JOHNSTONE, A. M. et al. Effects of a high-protein ketogenic diet on hunger, appetite, and weight loss in obese men feeding ad libitum. Am. J. Clin. Nutr(2008) 87:44–55.
MANSOOR, N. et al. Effects of low-carbohydrate diets versus low-fat diets on body weight and cardiovascular risk factors: a meta-analysis of randomised controlled trials. J. of Nutr. (2014)115:466–479.
NAUDE, C. E. et al. Carbohydrate versus Isoenergetic Balanced Diets for Reducing Weight and Cardiovascular Risk: A Systematic Review and Meta - Analysis. Plos one. (2014) 9:305-319.
WESTERTERP-PLANTENGA, M.S.; LEMMENS, S.G.; WESTERTERP, K.R. Dietary protein – its role in satiety, energetics, weight loss and health. Brit. J. of Nutr. (2012)108:S105–S11.
WESTMAN, E. C. et al. Low-carbohydrate nutrition and metabolism. Am. J. Clin. Nutr. (2007) 86:276–84.
WYCHERLEY,
T.P. et al. Long-term
effects of Weight loss with a very low carbohydrate and low fat diet on
vascular function in over weight and obese patient.
J. of Inter.
Med. (2010) 267:452–461.
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