Nitro ácidos graxos: mais um fator positivo na dieta do Mediterrâneo - Artigos Projeto de Extensão @nossosalimentos_uenf
Nitro ácidos graxos: mais um fator positivo na dieta do Mediterrâneo
A dieta do mediterrâneo ficou mundialmente conhecida pelo fato de reduzir a incidência de doenças cardiovasculares. Esta dieta é caracterizada pelo elevado consumo de frutas, hortaliças, azeite de oliva e sementes; moderado consumo de laticínios; baixo consumo de carne bovina e consumo regular de pescados. Indiscutivelmente, é uma dieta saudável, rica em vitaminas, minerais e substâncias antioxidantes. Além disso, há que se considerar que o potássio é importante na redução da pressão arterial e este mineral é abundante nos vegetais, principalmente nas leguminosas.
Entretanto, seu efeito na redução de doenças cardiovasculares não poderia ocorrer apenas pelo fato de ela ser nutritiva, rica em antioxidantes e nem pelo baixo consumo de carne vermelha. Quanto ao azeite de oliva, não é um óleo que se destaque de outros. Muito pelo contrário. Os óleos de soja, canola e linhaça são os que, além de conter o ácido graxo essencial da família ômega-6, o ácido linoleico, são melhores fontes do outro ácido graxo essencial, o ácido linolênico da família ômega-3.
A partir
do ácido linoleico, um ômega-6, os animais produzem o ácido araquidônico,
ômega-6. Já a partir do ácido linolênico, um ômega-3, o organismo produz os
ácidos graxos ácido eicosapentaenóico (EPA) e docosahexaenóico (DHA), da
família ômega-3. Entretanto, esta transformação é muito limitada e por isso é
recomendado o consumo de peixes e produtos marinhos, principais fontes destes
ômega-3.
Os ácidos
graxos das famílias ômega-6 e ômega-3 têm muitas funções nos seres vivos. Uma
delas é serem precursores de substâncias vasodilatadoras, que atuam reduzindo a
pressão arterial. A substância clássica é o epoxieicosatrienóico, formado a
partir do ácido graxo araquidônico, da família ômega-6. Outras mais
potentes são formadas a partir dos ácidos graxos da família ômega-3. A partir
do EPA é formado o epoxieicosatetraenóico e, a partir do DHA, o
epoxidocosapentaenóico, que é o mais potente de todos.
Essas
substâncias não permanecem por muito tempo no organismo. São logo modificadas
pela enzima epóxi hidrolase, que as transforma em substâncias sem atividade
vasodilatadora e anti-inflamatória ou que têm atividade até contrária, elevando
a pressão arterial. Muitos medicamentos utilizados na prevenção de doenças
cardiovasculares atuam na inibição desta enzima.
A
importante descoberta na dieta do mediterrâneo é que o consumo de gorduras — no
caso deles, o azeite — com alimentos ricos em nitrito e nitratos propicia a
formação de nitro ácidos graxos, os quais são potentes inibidores das enzimas
epóxi hidrolases. Esses nitros ácidos graxos se ligam às enzimas epóxi
hidrolases inativando-as, de forma que os epóxis vasodilatadores formados a
partir dos ácidos graxos ômega-6 e ômega-3, permanecem por mais tempo no
organismo.
Um aspecto interessante nesta pesquisa é que o oxido de nitrogênio (NO) já era conhecido como uma substância sintetizada em nosso organismo e que possuía ação anti-inflamatória e de dilatação dos vasos sanguíneos, o que culmina com a redução da pressão arterial, de ataques cardíacos e de arteriosclerose. A maneira clássica do organismo sintetizá-lo é a partir de um componente das proteínas, o aminoácido arginina. Entretanto, há indivíduos que não fazem essa síntese devidamente.
A outra via é por meio de bactérias que habitam a boca. Os nitratos e nitritos presentes nos alimentos são absorvidos, atingem a corrente sanguínea e a maior parte deles vai para as glândulas salivares. Na saliva, as bactérias os convertem em oxido de nitrogênio (NO). Este óxido de nitrogênio, no estômago, pode reagir com ácidos graxos formando os nitro ácidos graxos. Mas isso só ocorre quando a alimentação contém também ácidos graxos insaturados, como é o caso do azeite de oliva e outros óleos vegetais. No caso do azeite de oliva, já foi constatado que possui também nitro ácidos graxos já prontos.
Essa
informação mostra a evolução do conhecimento e do rompimento de
paradigmas. Um dos pontos polêmicos é sobre a ingestão de nitratos e
nitritos, os quais, durante muito tempo, foram considerados prejudiciais para a
saúde.
Os
nitratos e nitritos são potentes bactericidas e utilizados desde séculos
passados na conservação de carnes, no processo de cura. Ainda atualmente são os
mais potentes inibidores do crescimento do Clostridium botulinum, uma
bactéria que produz uma toxina letal.
Uma interessante curiosidade é o uso da saliva pelos animais e humanos
para tratar machucados, o que realmente procede, porque contém elevadas
quantidades de nitrato.
A
associação entre nitratos e problemas para a saúde começou a partir de 1940,
quando sua presença na água foi associada à incidência de meta-hemoglobinemia
em crianças. Esta doença se caracteriza pela alteração da hemoglobina (oxidação
do ferro), o que impossibilita o transporte de oxigênio. Ela pode ser causada
por diversos fatores, dentre eles o nitrato e nitrito. Com isso, o governo de
alguns países, inclusive dos Estados Unidos, estabeleceu que a quantidade de
nitrato na água potável deveria ficar abaixo de 44 mg/litro.
Associado
a isso, em 1956, pesquisadores identificaram substâncias com potencial
carcinogênico — as nitrosaminas — formadas a partir da reação de nitratos e
nitritos com componentes das proteínas. Estas substâncias poderiam ser formadas
nas carnes curadas, principalmente quando aquecidas, e também no estômago. Posteriormente,
foi descoberto que a vitamina C inibia a formação das nitrosaminas que a
quantidade formada no organismo não era suficiente para causar câncer e que nem
todas as crianças são susceptíveis à formação de meta-hemoglobinemia.
Então, em
2003, especialistas da Organização Mundial de Saúde declararam que as pesquisas
até então não comprovavam que o consumo de nitrato e nitrito era prejudicial
para a saúde humana. A partir dessa data, foram intensificadas as
pesquisas sobre a presença de nitratos e nitritos nos alimentos e muitas
comprovaram seus efeitos benéficos para a saúde. Inclusive, foram
identificados como importantes fatores positivos na dieta dos japoneses. O
que não se sabia era como eles atuavam para baixar a pressão arterial.
|Agora a
questão: |
Quais são
os alimentos ricos em nitratos e nitritos? A beterraba é apontada como a melhor
fonte. Há diversos estudos mostrando o efeito hipotensor do suco de beterraba.
As folhas verdes também são ricas nestas substâncias. De acordo com os
pesquisadores, os alimentos que não recebem intensa radiação solar tendem a
acumular nitrito e nitrato.
As carnes
curadas, por serem tratadas com nitrato e nitrito para a conservação (presunto,
mortadela, patês de carne, bacon etc.) podem conter quantidades apreciáveis
destas substâncias. Entretanto, podem
conter também substâncias cancerígenas (nitrosaminas) e por este motivo devem
ser consumidas com cautela.
Outro
aspecto que vale ser ressaltado é o fato de que a maior parte dos nitratos
ingeridos vão para a saliva e que o ato de cuspir é uma forma de eliminá-los.
Por isso, os indivíduos que cospem muito podem ter menor formação de nitro
ácidos graxos.
Portanto,
vários fatores tornam a dieta do mediterrâneo benéfica para a saúde. Ela possui
variedade de alimentos, dos quais muitos são alimentos nutritivos: hortaliças,
frutas, sementes, laticínios, óleos vegetais, peixes e até mesmo carne
vermelha. Sendo assim, fornece vitaminas, minerais, ácidos graxos insaturados e
substâncias antioxidantes. É uma dieta diversificada que pode ser adotada em
muitos outros países.
A novidade
desta pesquisa é que pode identificar que o consumo simultâneo de azeite e
vegetais propicia a formação dos nitroácidos graxos que, devido às funções
anti-hipertensiva e anti-inflamatória, previnem doenças cardiovasculares.
Esta ação não é obtida nem por meio de suplementos nutricionais.
Finalizando,
temos que ressaltar os hábitos de vida do povo do mediterrâneo, particularmente
a prática de atividade física moderada regularmente e o bem-estar emocional,
também são aspectos importantíssimos para a saúde.
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