O consumo de sal e suas implicações na saúde e na qualidade dos alimentos - Artigos Projeto de Extensão @nossosalimentos_uenf
O consumo de sal e suas implicações
na saúde e na qualidade dos alimentos
A hipertensão arterial constitui um
dos problemas de saúde de maior prevalência na população mundial, atingindo, no
Brasil, aproximadamente 33% da população adulta e 72% dos indivíduos acima de
70 anos. Em 2017 ocorreram 1.312.663
óbitos no Brasil. Destes, 27,3% foram devido a doenças cardiovasculares. Essas
doenças representaram 22,6% das mortes prematuras no Brasil (entre 30 e 69 anos
de idade). No período de uma década (2008 a 2017), foram estimadas 667.184
mortes atribuíveis à hipertensão arterial, tendo sido observado leve aumento no
infarto agudo do miocárdio (25%) e um importante aumento na identificação de
hipertensão arterial (128%). Esta enfermidade é a principal responsável pelos
casos de acidente cerebrovascular e infarto agudo do miocárdio e uma das
principais causas das aposentadorias precoces, correspondendo, portanto, a um
dos mais sérios problemas de saúde pública no Brasil.
O sódio e o potássio são minerais essenciais para a regulação dos fluidos intra e extracelulares, atuando na manutenção da pressão sanguínea. A necessidade diária de sódio de um adulto é de 300-500 miligramas. O sal de cozinha – cloreto de sódio – é composto de 40% de sódio (Na) e é a principal fonte de sódio na alimentação. Os sachês de sal contêm 1 grama de cloreto de sódio, portanto, 400 miligramas de sódio. A maior parte dos indivíduos, mesmo as crianças, consome níveis deste mineral além de suas necessidades. A ingestão média de sal no Brasil é de 9,3 g/dia (9,63 g/dia para homens e 9,08 g/dia para mulheres), enquanto a de potássio é de 2,7 g/dia para homens e 2,1 g/dia para mulheres.
Segundo as Diretrizes Brasileiras de
Hipertensão 2020, respaldada por vasta literatura científica, a ingestão de
sódio está associada à doença cardiovascular e acidente vascular encefálico
quando a ingestão média de sódio é superior a 2 g por dia, o equivalente a 5 g
de sal de cozinha. A ingestão elevada de sódio acarreta aumento de 4,5 a 6,0
mmHg na pressão sistólica e entre 2,3 a 2,5 na pressão diastólica. Isto
significa que a ingestão de sódio é um fator importante na elevação da pressão
arterial que pode ser modificado!
Considerando os efeitos maléficos do
consumo de sódio, por que o ser humano não deixa de adicioná-lo aos alimentos,
uma vez que estes já o contêm naturalmente? São muitos os fatores envolvidos
nessa questão. Na verdade, tanto na culinária doméstica como para produtos
industrializados, o sal auxilia na conservação do alimento conforme a
quantidade utilizada, pois diminui a água disponível para a ocorrência de
reações químicas, ação de enzimas e atividade de microrganismos (bactérias,
fungos ou leveduras) que podem deteriorar o alimento ou trazer prejuízos à
saúde do indivíduo. Além disso, o cloreto de sódio também contribui para o
sabor dos alimentos, geralmente atuando de forma sinérgica com outras
substâncias do produto, realçando ou suprimindo gostos ou sabores pelos quais
são responsáveis. Nos alimentos processados, o sal tem função na formação da
estrutura dos produtos, como na produção de salsichas, mortadelas e embutidos
de forma geral, contribuindo para as características de formato, textura (como
suculência, maciez, desidratação) e aparência, dentre outras.
Outro fator importante a se considerar é que o nível de adição de sal nos
alimentos depende dos hábitos alimentares da população de cada país ou região.
Em alguns países orientais ou europeus, o sal é adicionado na culinária em
níveis baixíssimos, enquanto em outros, o inverso acontece. Mesmo nas várias
regiões do Brasil, há diferenças no costume de adição de sal na dieta. Por
essas razões, existe grande dificuldade em abolir totalmente a adição do sal da
dieta humana.
Sendo assim, não seria possível usar nos alimentos outros sais que não
contenham sódio? Vejamos primeiramente as funções dos minerais presentes em
outros sais comestíveis. O potássio (K), o cálcio (Ca) e o magnésio (Mg) são
minerais que apresentam importantes moduladores na resposta pressórica ao
sódio.
O K é o principal cátion intracelular e sua
ingestão adequada (4,7 g/dia) contribui para a manutenção dos
níveis normais da pressão arterial, reduzindo os efeitos adversos do consumo de
sal — diminui o risco de formação de cálculos renais e, provavelmente, da perda
de massa óssea. Dietas ricas em K podem exercer papel na prevenção e tratamento
da hipertensão arterial. Vegetais verdes, frutas, batatas, leite, água de coco
e feijão são alimentos ricos em K.
O Ca, principal constituinte dos
ossos e dentes, tem papel controverso nos níveis de pressão arterial, parecendo
haver correlação entre a hipertensão arterial e dietas com menos de 600 mg/dia
de Ca. Suas principais fontes são: leite e derivados, vegetais verdes,
sardinhas e mariscos.
Alguns estudos buscam estabelecer uma
correlação entre o Mg e a pressão arterial. Dietas ricas em Mg parecem
reduzi-la apenas em pacientes com hipomagnesemia (baixo conteúdo de magnésio no
sangue). Suas principais fontes são também os produtos lácteos e os vegetais
verde-escuros. A recomendação atual para os hipertensos é uma reorientação
alimentar para uma dieta rica em K, Ca e Mg.
Considerando estas funções benéficas do potássio, cálcio e magnésio na saúde humana, eles poderiam ser excelentes opões para condimento. Entretanto, todos eles possuem fortes inconvenientes do ponto de vista sensorial e tecnológico. Cada tipo de sal possui um poder de salga e um limiar de detecção (concentração mínima com que é percebido mediante degustação) próprios, que variam com a composição química do meio em que o sal é adicionado. Desta forma, para alguns tipos de sais, seriam necessárias quantidades mais elevadas que a utilizada com o cloreto de sódio. Estes sais conferem também gostos e sabores indesejáveis, como gosto amargo e ácido, sabores adstringentes, metálico ou de remédio. Desta forma, a quantidade necessária para salgar acarreta também gosto indesejável. Substituir total ou parcialmente o cloreto de sódio por outro sal em um alimento não é tarefa simples, exigindo ainda a condução de estudos multidisciplinares que avaliem seu efeito sobre a vida útil do produto. Em outras palavras, por quanto tempo o produto estará seguro à saúde do consumidor e com qualidades física, química, nutricional e sensorial satisfatórias, principalmente do ponto de vista do consumidor, ou seja, o quanto ele está gostando da aparência, aroma, sabor e textura do novo produto.
Os profissionais de saúde e órgãos
governamentais têm feito forte pressão para que haja redução do consumo de
sódio pelas pessoas. Muitos pesquisadores têm buscado alternativas ao uso do
cloreto de sódio para salgar os alimentos. Alguns resultados já são vistos por
meio da oferta de produtos com redução dos teores de sódio por algumas
empresas. Entretanto, ainda estamos
muito longe de uma dieta sem os perigos do excesso de sódio. Precisamos nos
engajar na educação nutricional de nossa população e para isso contamos com
você que leu esta matéria. Lembre e divulgue:
A redução de apenas 1,75 g de sódio
por dia (4,4 g do sal de cozinha) pode reduzir, em média, 4,2 mmHg na pressão
sistólica e 2,1 mmHg na pressão diastólica!
Referências Bibliográficas:
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