Soja: alimento de alta qualidade para ser consumido com moderação - Artigos Projeto de Extensão @nossosalimentos_uenf
Soja: alimento de alta qualidade para ser consumido com moderação
A soja é uma leguminosa - assim como o feijão,
ervilha, grão de bico, amendoim e lentilha — e é muito nutritiva. O
Brasil perde apenas para os EUA como maior produtor de soja no mundo (95
milhões de toneladas) e a maior parte de sua produção é destinada ao mercado
externo. A partir da soja são fabricados diversos subprodutos como: extrato de
soja, farinha, missô, shoyo, óleo de cozinha, bebida de soja, tofu, lecitina e
proteína texturizada, concentrada ou isolada. Na Figura 1, é mostrada a composição do grão de soja; na Tabela 1, o valor
nutritivo de alguns de seus derivados; e na Figura 2, alguns exemplos de
produtos derivados da soja.
A soja é rica em proteínas de alto valor biológico, ou seja, possui elevado teor de aminoácidos essenciais e eles são bem absorvidos e utilizados pelo organismo. A qualidade das proteínas da soja se assemelha às boas proteínas de origem animal. Àqueles que optam por dietas vegetarianas têm na soja a melhor opção proteica entre os vegetais. A soja, assim como o feijão, forma boa combinação com o arroz, pois a soja é rica no aminoácido essencial lisina e pobre em metionina, também um aminoácido essencial, ao contrário do arroz, que é pobre em lisina, porém rico em metionina. Já existem no mercado diversos suplementos à base de proteína isolada da soja (que já possui tratamento térmico) destinado a casos especiais de saúde, como desnutrição, intolerância à lactose, galactosemia e alergia a proteínas do leite. A soja, assim como o feijão, contém fatores antinutricionais que podem ser inativados com tratamento térmico.
Dentre os carboidratos presentes na soja, estão os
oligossacarídeos (rafinose, estaquiose e sacarose) e amido. Os
oligossacarídeos, no intestino grosso, podem ser utilizados pelas bactérias
benéficas no intestino, estimulando o crescimento destas bactérias mas
acarretando a produção de gases.
As fibras são do tipo insolúvel (hemicelulose, celulose e lignina) e solúvel (a pectina, principalmente). Por ser rico em fibras alimentares, contribui para o melhor funcionamento do intestino.
A soja possui lipídios de boa qualidade e os ácidos graxos essenciais para o ser humano, a saber, o ácido linoleico e o alfa-linolênico. Além de possuir altos teores do ácido linoleico (ômega-6), ele é um dos poucos óleos que nos fornece quantidade satisfatória do ácido alfa-linolênico (ômega-3). Estes ácidos graxos são essenciais para constituir membranas de células, hormônios que controlam o sistema imunológico, impulsos elétricos para comunicação entre neurônios, coagulação sanguínea, vasodilatação, broncodilatação, redução do LDL-colesterol. Entretanto, o consumo de ômega 3 e ômega 6 deve ser equilibrado, uma vez que o excesso de ômega 6 pode provocar inflamação desnecessária e o excesso de ômega 3 pode favorecer hemorragia. A presença de ômega 3 em quantidades adequadas ajuda a amenizar o excesso de produção de substâncias inflamatórias. O Ministério da Saúde recomenda que o consumo de ômega 6 provenientes dos vegetais (ácido linoléico) deva ser 15 g ao dia, e ômega 3 (alfa-linolênico), 2 gramas ao dia. Na Tabela 2, pode-se comparar o teor de ácidos graxos ômega 3 e 6 do óleo de soja com outros óleos e azeites vegetais.
Devido ao fato de apresentar elevado teor de ácidos
graxos poli-insaturados, o óleo se oxida com maior facilidade durante o
armazenamento e quando submetido a altas temperaturas. Observe que o óleo
de soja possui altas quantidades de ácidos graxos poli-insaturados, o que
inclui os ômega-6 e ômega-3. Apenas o óleo de canola possui quantidade do
ácido graxo essencial alfa-linolênico superior ao de soja. Entretanto, esta
diferença só é expressiva quando é observado em 100 g de óleo. Na quantidade de
óleo que se usa no refogado (2 colheres de sopa, aproximadamente 11,2 g), a
diferença é insignificante, o que torna o óleo de soja mais viável em termos de
qualidade e custo.
No Brasil, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) considera a
proteína da soja como alimento funcional e recomenda a ingestão de 25g ao dia
para ajudar na redução das lipoproteínas de baixa densidade do sangue
(LDL-colesterol). Esta recomendação também é adotada nos Estados Unidos, Reino
Unido, África do Sul, Filipinas, Indonésia e Colômbia. A soja também é rica em
antioxidantes, como as isoflavonas, as quais ajudam a prevenir doenças crônicas,
como câncer de mama, diabetes e doenças cardiovasculares. A ingestão da soja
também está associada à redução do índice glicêmico em dieta mista e redução da
glicemia, uma vez que a isoflavona ginesteína pode estimular o pâncreas a
produzir insulina e as fibras retardam a absorção da glicose dos alimentos ingeridos
junto à soja. O campo de estudo da soja sobre o controle da
glicemia ainda precisa ser melhor explorado, tendo em vista que as pesquisas
foram realizadas in vitro e com animais roedores.
Existe a polêmica de que o consumo regular da soja possa causar características
femininas em homens e provocar distúrbio no funcionamento da tireoide em
humanos. Este fato é atribuído às isoflavonas, pois algumas têm a
estrutura molecular semelhante aos hormônios femininos (estrógeno), de forma
que elevado consumo poderia causar aumento do tecido mamário em homens
(ginecomastia). Entretanto, há poucas evidências que sustentem esta hipótese e
estudos mostram que as isoflavonas apresentam-se na forma glicosilada, o que
não teria efeito hormonal. Diversos estudos têm indicado que as
isoflavonas (genisteína e daidzeína) possam inibir o processo de iodação para
síntese de hormônios tireoidianos e provocar baixo funcionamento da glândula a
até causar bócio.
Entretanto, é importante ressaltar que
estes efeitos negativos apenas ocorrem com ingestão de quantidade muito elevada
de isoflavona. O teor de isoflavonas na soja varia de acordo com as cultivares,
sendo em média 267 mg/100 g de soja, majoritariamente na forma glicosilada. A
ingestão diária de 25g de soja — que é a quantia recomendada pela Anvisa para
efeito funcional — conteria, em média, 66,7 mg /100 g de isoflavonas, o
que é inferior à quantidade necessária para
causar efeitos indesejáveis. Por exemplo, na pesquisa que demonstrou aparecimento de ginecomastia em homens, a ingestão de isoflavonas foi de 360 mg por dia por meio da ingestão de 3 litros de bebida com extrato de soja. A população japonesa consome grande quantidade de derivados fermentados da soja, como tofu, missô, natto, tempeh, os quais possuem baixo teor de isoflavonas, pois, do contrário, poderia acarretar efeitos colaterais na produção de hormônios tireoidianos. O consumo de isoflavonas pelos japoneses é de 22mg ao dia, em média.
No que tange à prescrição de soja como fonte de isoflavona para alívio dos sintomas do climatério, a American Heart Association esclarece que não se deve recomendar a soja para este fim, tendo em vista que não há comprovação deste efeito.
Portanto, de acordo com as pesquisas realizadas até o momento, pode-se concluir
que o consumo em quantidade não excessivas de soja e/ou seus derivados traz
benefícios à saúde, mas é bom atentar para a necessidade de diversificar as
fontes de proteína da alimentação. A soja não deve ser a única ou principal
fonte proteica da dieta para evitar que seu consumo seja excessivo ao ponto de
acarretar efeitos adversos pelos fatores antinutricionais e disfuncionais que
ela possui.
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