Vitamina E
Luiza Barbosa de Souza Silva, Karla Silva Ferreira e Luiz Fernando Miranda
O termo vitamina E é utilizado para descrever um grupo de substâncias denominadas tocoferóis e tocotrienóis. Estas substâncias são encontradas em todos os organismos que fazem fotossíntese e com possibilidade de serem encontradas em maior concentração nas sementes e frutos ricos em ácidos graxos saturados. O α-tocoferol é o mais ativo em termos de atividade de Vitamina E.
O benefício mais conhecido da vitamina E é na proteção contra doenças cardíacas. Esta cardioproteção é devido a neutralização de radicais livres e espécies reativas de oxigênio que poderiam oxidar lipídios, especialmente os ácidos graxos insaturados que formam as membranas celulares e o colesterol das lipoproteínas. Isso pode desencadear processo inflamatório e formação de placas de ateroma. A função antioxidante da vitamina E também previne outros problemas no organismo, tais como: envelhecimento da pele, certos tipos de câncer, catarata, diabetes, infecção, doenças inflamatórias, anemia hemolítica e doenças neurodegenerativas. Sua deficiência grave pode causar danos ao sistema nervoso central, levando a distúrbios neurológicos e também lesões musculares e outras complicações.
Estudos atuais têm demonstrado que o efeito antioxidante da vitamina E não é suficiente para justificar todos os seus efeitos no sistema vascular. A vitamina E tem efeito na modulação inflamatória por meio da sinalização celular, regulação enzimática e de genes associados a produção de citocinas inflamatórias.
Segundo a OMS há grande diferença da ingestão de alfa-tocoferol entre diferentes países, variando de aproximadamente 8 a 10 mg/pessoa/dia até 20-25 mg/pessoa/dia. Esta variação está relacionada, principalmente, ao tipo e quantidade de óleo utilizado nestes países. Por exemplo, onde se utiliza o óleo da semente de girassol, que contem aproximadamente 55 mg de alfa tocoferol por 100 g, a ingestão de vitamina E é mais elevada, em contraste com o uso de óleo de soja, que contem entre 8-12 mg da vitamina em 100 g.
A recomendação de ingestão de vitamina E para população é de 15 mg/dia para homens e mulheres e 19 mg/dia para mulheres lactantes. O limite superior de ingestão (UL) é de 1000 mg/dia. Ingestão igual ou maior do que este nível pode causar hemorragias. No entanto este excesso dificilmente ocorre por meio da ingestão natural de tocoferóis nos alimentos, mas sim pela suplementação.
Há consenso na literatura de que uma dieta balanceada fornece a quantidade adequada de vitamina E. Embora apenas 20% a 40% do α-tocoferol ingerido seja absorvido, o que é considerado uma absorção ineficiente, a deficiência severa desta vitamina só foi relatada em pessoas com problemas de má absorção de gorduras ou indivíduos com dificuldade de metabolizar ou transportar a vitamina no organismo. Ressalta-se que a gordura da dieta é essencial para a absorção da vitamina E, por isso dietas muito restritas em gordura podem prejudicar a absorção desta vitamina.
Deve-se destacar que a vitamina E é dependente da presença de outras vitaminas e substâncias antioxidantes, como a niacina (vitamina B3), vitamina C, betacaroteno, glutationa peroxidase, selênio e compostos fenólicos. Estes produtos recuperam a vitamina E no organismo após ela neutralizar radicais livres. As frutas, em sua maioria, são ricas em vitamina C; o café, vinho, suco de uva, azeite são exemplos de alimentos ricos em compostos fenólicos; o mamão, cenoura, couve e outras frutas amarelas e hortaliças folhosas de cor verde escura são ricas em betacaroteno; e as carnes e sementes são ricas em vitamina B3 e selênio.
A vitamina E é encontrada em uma variedade de alimentos. É abundante em nozes, sementes e seus óleos. O óleo de germe de trigo se destaca devido a elevada quantidade de α-tocoferol, seguido por amêndoas, óleo de girassol, óleo de açafrão, avelãs e amendoim. Em nossa dieta, a vitamina E é geralmente obtida a partir de ovos, carne, peixe, margarina, pão, vegetais verdes, frutas e cereais fortificados. Em sementes de girassol a vitamina E é encontrada exclusivamente na forma de α-tocoferol, o que faz deste alimento uma valiosa fonte dietética desta vitamina.
No Quadro 1 são apresentados os teores de vitamina E nos principais alimentos fontes desta vitamina. Entretanto, deve-se atentar para o fato de que os teores de vitamina E em alimentos podem variar dependendo de características de cultivo da planta, e que muitos destes dados publicados nas tabelas de composição de alimentos são estimados.
Quadro 1- Quantidades aproximadas de Vitamina E (mg) em porções de 100g de alimentos
Alimentos (100g) |
Medida Caseira |
Vitamina E (mg) |
Óleo de gérmen de trigo |
½ copo |
124 |
Óleo de girassol |
½ copo |
69 |
Óleo de canola |
½ copo |
18 |
Óleo de amendoim |
½ copo |
39 |
Amêndoas |
3 punhados |
26 |
Semente de girassol |
6 colheres de sopa |
20 |
Gérmen de trigo |
5 colheres de sopa |
16 |
Avelã |
100 unidades |
15 |
Azeite de oliva |
½ copo |
14 |
Ovo de galinha |
2 unidades |
14 |
Óleo de soja |
½ copo |
12 |
Amendoim |
100 unidades |
7,8 |
Castanho do pará |
40 unidades |
6,3 |
Margarina |
4 colheres de sobremesa |
5,7 |
Kiwi |
1 unidade média |
2,8 |
Espinafre |
3 xícaras de chá |
1,8 |
Farelo de trigo |
5 colheres de sopa |
1,7 |
Brócolis |
1 xícara de chá |
1,5 |
Amora |
1 xícara de chá |
1,2 |
Couve |
10 colheres de sopa |
0,9 |
Manga |
½ unidade |
0,6 |
Peito de frango |
1 bife |
0,5 |
Tomate |
4 colheres de sopa |
0,5 |
Atum enlatado |
5 colheres de sopa |
0,4 |
Carne vermelha |
1 bife |
0,2 |
Pão |
2 unidades |
0,2 |
Leite de Vaca |
½ copo |
0,1 |
Fonte: adaptado de TBCA (2022); USDA (2022).
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O consumo em excesso de vitamina E, por outro lado, pode acarretar sérios problemas para a saúde, tais como fraqueza muscular, fadiga, náuseas e diarreia. A OMS estabelece que dose igual ou acima de 800 mg de vitamina E já é considerado tóxico para adultos. O consumo de quantidade igual ou maior que 1000 mg/dia (limite máximo de ingestão) acarreta sangramento, que é semelhante ao causado pelos anticoagulantes cumarina ou varfarina. Os potenciais efeitos citotóxicos das doses suplementares de vitamina E têm levantado preocupação entre os pesquisadores e sugerido a necessidade de reduzir o limite máximo de ingestão de vitamina E.
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