Deficiência de vitamina D na gestação e depressão pós-parto - Artigos Projeto de Extensão @nossosalimentos_uenf
Apesar
de ser conhecida como vitamina D, uma vitamina lipossolúvel, conceitualmente se
trata de um pró-hormônio produzido a partir da ação do raio ultravioleta B na
pele quando há exposição à luz solar (Figura 1).
Esta vitamina apresenta importante função para a absorção do cálcio e, consequentemente, para a saúde dos dentes e dos ossos. As situações que favorecem a sua deficiência podem causar osteomalácia e a osteoporose.
Nos
últimos anos, com os avanços em estudos populacionais e na área da saúde, tem
sido observado que a deficiência de vitamina D está associada a outras
manifestações clínicas e a patologias (tais como baixa imunidade, fadiga,
fraqueza muscular, dor crônica, doenças cardiovasculares e respiratórias,
diabetes, alguns tipos de câncer, doenças autoimunes — como
a esclerose múltipla e a psoríase — e
quadros depressivos, incluindo a depressão pós-parto). Para mais detalhes, veja
a matéria sobre vitamina D publicada em novembro de 2015 no Blog da Ciência da
UENF e Blogspot: “Sem sol, peixes, gema
de ovo, fígado e manteiga:
sem Vitamina D”. Link: <https://projetonossosalimentos-uenf. blogspot.com/>
Um grupo de pesquisadores australianos avaliou 796 gestantes com o objetivo de
verificar se as concentrações séricas de vitamina D durante o período
gestacional estariam associadas a sintomas da depressão pós-parto. As gestantes
tiveram amostras de sangue coletadas no segundo trimestre de gestação (18ª
semana) para que a análise da vitamina D fosse realizada.
Além disso, até três dias pós-parto, as mesmas gestantes responderam a um questionário de seis perguntas derivadas da Escala de Depressão Pós-parto de Edimburgo, que avalia a ansiedade, a tristeza, as flutuações de
humor,
os episódios de choro, mudanças de apetite e distúrbios do sono não
relacionados ao cuidado do bebê.
Os pesquisadores concluíram que concentrações mais baixas de vitamina D no
segundo trimestre da gravidez estão ligadas a sintomatologias que podem indicar
a perturbação do humor e a um maior risco de sintomas depressivos pós-parto,
especialmente nos primeiros dias após o nascimento.
Recentemente, a Sociedade Brasileira de Patologia Clínica/Medicina Laboratorial
(SBPC/ML) anunciou a mudança do valor de referência para as concentrações
sanguíneas de vitamina D: atualmente, valores a partir de 20 ng/mL são
considerados normais, enquanto que, anteriormente, era acima de 30 ng/mL.
Ainda, aquelas pessoas que estão com teores sanguíneos de vitamina D entre 20 a
30 ng/mL não necessitam de reposição da vitamina.
As
concentrações séricas baixas ou insuficientes de vitamina D durante a gestação
não terão consequências somente para as mães, mas também para os bebês. Alguns
estudos associam a deficiência de vitamina D a dificuldades de desenvolvimento
para os filhos, como atraso de linguagem e doença mental grave. Maiores
riscos para a psicopatologia infantil e problemas de internalização em crianças
pré-escolares também já foram relatados.
Diante desta observação, profissionais que
atendam gestantes durante as consultas de pré-natal devem ter o cuidado de
avaliar o status desta vitamina e adotar condutas que possam prevenir a sua
deficiência ou, quando existente, tratá-la, seja por meio de orientações a
respeito da exposição solar ou consumo de alimentos fontes de vitamina D ou suplementos nutricionais.
A principal fonte de vitamina D é a luz do sol, que é responsável por 80 a 90%
de toda a vitamina D de que o corpo necessita. Para isso, é preciso que
haja exposição de braços e pernas, sem o uso do protetor solar, por cerca de 5
a 30 minutos entre o horário de 10h às 15h, duas vezes por semana. Afora a
exposição à luz solar e uso de suplementos nutricionais, poucos são os
alimentos fontes naturais de vitamina D. São eles: salmão, sardinha, ovo,
leite, fígado, queijos e alimentos
enriquecidos com vitamina D.
Controlar fatores que possam favorecer o desenvolvimento de um quadro
depressivo no pós-parto imediato é crucial também para o estabelecimento do
aleitamento materno, uma vez que algumas puérperas com depressão deixam de
amamentar seus bebês. Portanto, o cuidado da saúde durante a gestação é
importante tanto para a mãe quanto para o filho.
Referências Bibliográficas:
HOLICK,
M. F. Vitamin D deficiency. N Engl J Med. 2007;357(3):266281.
MARQUES, C. D.
L. et al. A importância dos níveis de vitamina D nas
doenças autoimunes. Rev Bras Reumatol 2010;50 (1):67-80.
MAEDA, S. S. et al. Recomendações da Sociedade Brasileira de
Endocrinologia e Metabologia (SBEM) para o diagnóstico e do tratamento da
hipovitaminoseD. Arq Bras Endocrinol Metab. 2014;58/5.
HASSELMANN, M. H.; WERNECK, G. L.; SILVA, C. V. Symptoms of postpartum depression and early interruption of exclusive breastfeeding in the first two months of life. Cad Saúde Pública. 2008; 24 (Suppl 2):S341-52.
DENNIS, C. L.; MCQUEEN, K. The relationship between infant-feeding outcomes and postpartum depression: a qualitative systematic review. Pediatrics. 2009;123(4):e736-51.
SHARMA, V.; CORPSE, C. S. Case Study revisiting the association between
breastfeeding and postpartum depression. J Hum Lact. 2008; 24(1):77-9.
SOCIEDADE BRASILEIRA DE DERMATOLOGIA. Disponível em: http://www.sbd.org.br/. Acesso em 15/03/2018.
MARQUES, C. D. L. et al. A importância dos níveis de vitamina D nas doenças autoimunes. Rev Bras Reumatol 2010;50(1):67-80.
ROBINSON, M. et al. (2008). Pre- and postnatal influences on preschool
mental health: a large-scale cohort study. J Child
Psychol Psychiatry 49(10):1118–1128.
ROBINSON, M. et al., (2011). Lifestyle and demographic correlates of poor mental health in early adolescence. J Paediatr Child Health 47(1):54–61.
Comentários
Postar um comentário
Os comentários serão moderados.