Gordura de coco e saúde humana - Artigos Projeto de Extensão @nossosalimentos_uenf
Gordura de coco e saúde humana
Luiz Fernando Miranda da Silva e Karla Silva Ferreira
|Gordura ou óleo de coco?|
Quanto maior o
número de átomos de carbonos do ácido graxo e menor o número de ligações
duplas, mais alto seu ponto de fusão. Em outras palavras, mais sólidos são à
temperatura ambiente.
As gorduras têm em
sua composição maior porcentagem de ácidos graxos saturados e por isso são
sólidas à temperatura ambiente (25o C). Já os óleos, por terem alta porcentagem
de ácidos graxos insaturados, são líquidos nestas condições.
A denominação de azeite é dada aos óleos que são extraídos de frutos, como o de oliva e dendê. Abaixo pode ser observada a estrutura de uma molécula de triacilglicerol (Figura 1) e de duas moléculas de ácido graxo, uma de ácido graxo saturado e outra de insaturado(Figura 2).
Na tabela 1 é
mostrada a composição da gordura de coco e a classificação dos seus ácidos
graxos quanto ao tamanho da cadeia e grau de saturação. Conforme pode ser observado,
99% dos ácidos graxos são saturados. Portanto, a denominação correta, no caso
do coco, é gordura de coco, uma vez que ele
A gordura de coco, com a denominação de “óleo”, tem
sido recomendada por diversos profissionais da saúde como alimento benéfico
para a saúde humana e também como fonte energética para praticantes de
exercício físico. Realmente, há algumas vantagens em seu consumo, mas não tanto
quanto tem sido divulgado. Um ponto positivo para a gordura de coco é a sua
fácil digestibilidade, a presença de polifenóis, que podem ter efeito
antioxidante, e maior estabilidade para a fritura que os óleos, gerando menor
quantidade de compostos tóxicos. Esta estabilidade é dada pela baixa quantidade
de ácidos graxos insaturados, apenas 1%. Todavia, a recomendação é reduzir o
uso de frituras e de dietas que forneçam energia acima da quantidade que o
indivíduo pode gastar, visto que isso leva a um progressivo ganho de peso.
Alertamos que a incidência de obesidade está aumentando em nossa população,
tanto nos adultos quanto entre os jovens e crianças.
Alguns estudos têm evidenciado que, devido à gordura de coco apresentar
majoritariamente ácidos graxos de cadeia média (ácido caprílico, cáprico e
láurico), poderia induzir perda de peso e fonte energética no exercício físico,
uma vez que estes ácidos graxos são mais facilmente digeridos, absorvidos e
transportados no sangue. Realmente, sua indicação na prática clínica é devido a
algumas destas características. Os ácidos graxos de cadeia curta e média são
indicados para indivíduos nas seguintes condições:
1) Com comprometimento da formação da bílis e absorção de óleos ou gorduras formados por ácidos graxos de cadeia longa.
2) Para as pessoas que requerem elevada ingestão de
energia por estarem com o catabolismo acelerado, por exemplo, em casos de
grandes queimaduras ou em pós-operatório.
3) Nas pessoas com deficiência de transportadores de ácidos graxos de cadeia longa nas mitocôndrias.
4) No tratamento de
convulsões.
No caso do efeito positivo dos ácidos graxos de cadeia média no desempenho atlético de humanos, os estudos que demonstraram efeito positivo foram na quantidade de 30 g a 45 g para a redução do glicogênio muscular. Entretanto, não apresentaram efeito superior à suplementação com glicose em solução. Por outro lado, nestas quantias testadas, foi observado que os ácidos graxos de cadeia média provocaram efeitos gastrointestinais negativos.
Sendo assim, o uso de gordura de coco como estratégia de pré-treino para aumento de energia não parece uma boa alternativa. Para corresponder a 30 gramas de ácidos graxos de cadeia média seriam necessárias 60 gramas de gordura de coco, quantia esta que, provavelmente, causaria desconforto gástrico e baixa aceitabilidade de consumo. Isto aumentaria também a presença de outros ácidos graxos de cadeia longa em quantidade acima de 10 g, o que implica em baixa taxa de esvaziamento gástrico.
O elevado consumo de gordura de coco é desencorajado pela Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia, Conselho Federal de Nutrição, Academy of Nutrition and Dietetics/USA e Associação Brasileira de Nutrologia pelo fato de que seu consumo em quantidade elevada aumenta o LDL no sangue (lipoproteína de baixa densidade ou “colesterol ruim’), levando a risco de aterosclerose, infarto agudo do miocárdio, acidente vascular cerebral isquêmico e doença arterial periférica. Este fato é causado devido aos elevados teores dos ácidos graxos saturados de 12, 14 e 16 carbonos na gordura de coco. Estes ácidos graxos são, junto com as gorduras “trans”, as principais substâncias associadas às doenças cardiovasculares.
Finalmente, não há indicação dos mesmos para emagrecimento ou tratamento da obesidade. Esta gordura fornece a mesma quantidade de energia que as demais, ou seja, aproximadamente 9 quilocalorias por grama.
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