Sem sol, peixes, gema de ovo, fígado e manteiga: sem vitamina D! - - Artigos Projeto de Extensão @nossosalimentos_uenf
Sem sol, peixes, gema de ovo, fígado e manteiga: sem vitamina D!
A primeira função atribuída à vitamina D foi a absorção de cálcio, processo essencial para a formação dos ossos. Para exercer esta função, o Instituto de Medicina (IOM) recomenda a ingestão diária de 15 microgramas de vitamina D (precursor D2 ou D3) para a população em geral. Para pessoas acima de setenta anos, orienta-se a ingestão de 20 microgramas. A quantidade máxima de ingestão da vitamina D foi definida em 100 microgramas por dia.
Estudos recentes têm provado que a vitamina D possui inúmeras outras funções além do metabolismo do cálcio. Ela atua na redução do risco de diabetes tipo I e II, redução de algumas doenças autoimunes (como a esclerose múltipla), prevenção de alguns tipos de câncer, síntese de hormônios sexuais masculinos (testosterona) e funções musculares. Uma das funções da testosterona é promover a síntese de massa muscular.
Apesar de receber o nome de vitamina, a vitamina D é um hormônio. Há substâncias iniciais que tanto podem vir dos alimentos quanto serem formadas no organismo pela exposição da pele à luz solar. Estas substâncias, posteriormente, sofrem modificações para ficarem na forma ativa da vitamina D, a 1,25-dihidroxivitanima D, também denominada 1,25(OH)2D ou calcitriol ou D3 ativa.
Pouquíssimos alimentos fornecem a substância precursora da vitamina D, daí a grande importância da exposição à luz solar ou, na falta desta possibilidade, o uso de suplementos ou de alimentos enriquecidos. Os alimentos fontes da substância precursora da vitamina D são: peixes gordos (arenque, salmão, cavala e, em menor quantidade, sardinha e atum), gema de ovo, fígado, manteiga e alguns raros cogumelos. O leite integral contém pouquíssima vitamina D. O óleo de fígado de bacalhau é um extrato oleoso de peixe que tem sido há anos utilizado como suplemento alimentar desta vitamina (Tabela 1).
Nos EUA, a Escola de Saúde Pública de Harvard
incluiu a suplementação de vitamina D junto à pirâmide alimentar deles pelo
fato de a população americana ter grande chance de ser deficiente em vitamina
D, tanto pela baixa exposição solar, quanto pela baixa ingestão de alimentos
fontes.
A principal fonte natural dos precursores da vitamina é a síntese pelo corpo, quando a pessoa se expõe à radiação solar. Entretanto, esta síntese varia de acordo com fatores geográficos, faixa etária, pigmentação da pele e uso prolongado do filtro solar. O uso do protetor solar reduz em até 95% a produção de vitamina D, uma vez que ele bloqueia de forma eficiente a radiação UVB. O grau de pigmentação da pele é outro fator limitante para a produção de vitamina D, por exemplo, peles negras apresentam maior limitação à penetração de raios ultravioleta que as pelas mais claras. A idade também é um fator importante: em pessoas idosas, a síntese é menor que nos jovens.
Para que ocorra a síntese de quantidade adequada do
precursor da vitamina D ativa, é suficiente a exposição de braços e pernas, sem
o uso do protetor solar, por cerca de 5 a 30 minutos entre o horário de 10h às
15h, duas vezes por semana. A luz solar é composta por diversos tipos de
radiação, sendo os raios ultravioletas do tipo B (UVB)
Após a pré-vitamina D ser sintetizada pela pele ou
ingerida por meio dos alimentos, ela vai para a circulação sanguínea e, ao
passar pelo fígado, recebe uma hidroxila no carbono 25, formando a 25(OH)D
ou 25-hidroxivitamina D. Daí volta para
a circulação e, ao passar pelos rins (e, em menor extensão, por outros locais
do corpo), recebe outra hidroxilação, agora no carbono 1, sendo assim formada a
1-alfa,25-dihidroxi-vitamina D, também denominada calcitriol, cujo símbolo é
1,25(OH)D, que é a forma ativa da Vitamina D. Esta forma ativa é distribuída
pelo organismo por meio do sangue para exercer suas funções no intestino,
promovendo a absorção de cálcio, nas células do sistema imune e outros locais.
A Figura 1 ilustra as fontes, síntese e funções da vitamina D.
A emissão da radiação UVB coincide com a emissão da radiação UVA (ultravioleta tipo A), sendo ambos danosos à saúde. Cerca de 4% da radiação que chega à superfície da terra é radiação ultravioleta, a qual é composta, aproximadamente, por 96% de UVA e 4% de UVB. Por este motivo, tem havido intensa recomendação para uso de protetor solar e/ou evitar o sol neste horário. Com isso, por um lado, evita-se a incidência de certos problemas de pele. Mas, por outro, há menor produção de vitamina D pelo organismo, havendo até casos de síntese insuficiente desta vitamina. Este fato chamou a atenção dos pesquisadores devido aos problemas relacionados com sua deficiência, visto que pesquisas identificaram que há pessoas com níveis de vitamina D no sangue abaixo do ideal, até mesmo em países tropicais e ensolarados como o Brasil. Isso indica que as pessoas estão ingerindo quantidade insatisfatória desta vitamina e/ou se protegendo demasiadamente do sol.
Quando
a pré-vitamina D é sintetizada pelo organismo, não há risco de intoxicação
porque, quando seu nível na pele atinge um patamar elevado, ela começa a ser
degradada pela própria luz solar. A intoxicação devido à ingestão por alimentos
enriquecidos é polêmica. Alguns autores consideram que há necessidade de
ingestão muito elevada para que ocorram problemas. Outros consideram o risco
mesmo com baixa ingestão. O certo é que, se ingerida em excesso, pode
causar náuseas, vômitos, perda de apetite e calcificação em locais impróprios
no organismo, como no fígado, nos rins e
|Vitamina D e de seus precursores |
1) Grupo de origem animal formados a partir do colesterol: 7-desidrocolesterol (provitamina D3) dá origem ao colecalciferol (vitamina D3). Ambos são sintetizados na pele por irradiação da luz solar.
2) Grupo de origem vegetal ou fungos formados a partir do ergosterol: o ergosterol (provitamina D2) dá origem ao ergocalciferol (vitamina D2), sem necessidade de luz solar.
3) Vitamina
D ativa. Escrita na forma de 1,25(OH)2D ou 1,25 dihidroxivitamina D. É formada
quando o colecalciferol (D2) ou o ergocalciferol (D3) recebem duas hidroxilas.
Primeiro uma no carbono 25, que ocorre no fígado, e depois a segunda no carbono
1, que ocorre nos rins. Em algumas
referências encontramos também os símbolos 1,25(OH)D2 e 1,25(OH)D3 para se
referirem às vitaminas D ativas provenientes das provitaminas D2 e D3,
respectivamente.
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