Sem sol, peixes, gema de ovo, fígado e manteiga: sem vitamina D! - - Artigos Projeto de Extensão @nossosalimentos_uenf


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Sem sol, peixes, gema de ovo, fígado e manteiga: sem vitamina D!

Tabatha de Souza Vasconcelos, Karla Silva Ferreira e 
Luiz Fernando Miranda da Silva

A primeira função atribuída à vitamina D foi a absorção de cálcio, processo essencial para a formação dos ossos. Para exercer esta função, o Instituto de Medicina (IOM) recomenda a ingestão diária de 15 microgramas de vitamina D (precursor D2 ou D3) para a população em geral. Para pessoas acima de setenta anos, orienta-se a ingestão de 20 microgramas. A quantidade máxima de ingestão da vitamina D foi definida em 100 microgramas por dia.

Estudos recentes têm provado que a vitamina D possui inúmeras outras funções além do metabolismo do cálcio. Ela atua na redução do risco de diabetes tipo I e II, redução de algumas doenças autoimunes (como a esclerose múltipla), prevenção de alguns tipos de câncer, síntese de hormônios sexuais masculinos (testosterona) e funções musculares. Uma das funções da testosterona é promover a síntese de massa muscular.

Apesar de receber o nome de vitamina, a vitamina D é um hormônio. Há substâncias iniciais que tanto podem vir dos alimentos quanto serem formadas no organismo pela exposição da pele à luz solar. Estas substâncias, posteriormente, sofrem modificações para ficarem na forma ativa da vitamina D, a 1,25-dihidroxivitanima D, também denominada 1,25(OH)2D ou calcitriol ou D3 ativa.

Pouquíssimos alimentos fornecem a substância precursora da vitamina D, daí a grande importância da exposição à luz solar ou, na falta desta possibilidade, o uso de suplementos ou de alimentos enriquecidos. Os alimentos fontes da substância precursora da vitamina D são: peixes gordos (arenque, salmão, cavala e, em menor quantidade, sardinha e atum), gema de ovo, fígado, manteiga e alguns raros cogumelos. O leite integral contém pouquíssima vitamina D. O óleo de fígado de bacalhau é um extrato oleoso de peixe que tem sido há anos utilizado como suplemento alimentar desta vitamina (Tabela 1). 

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Nos EUA, a Escola de Saúde Pública de Harvard incluiu a suplementação de vitamina D junto à pirâmide alimentar deles pelo fato de a população americana ter grande chance de ser deficiente em vitamina D, tanto pela baixa exposição solar, quanto pela baixa ingestão de alimentos fontes.  

A principal fonte natural dos precursores da vitamina é a síntese pelo corpo, quando a pessoa se expõe à radiação solar.  Entretanto, esta síntese varia de acordo com fatores geográficos, faixa etária, pigmentação da pele e uso prolongado do filtro solar. O uso do protetor solar reduz em até 95% a produção de vitamina D, uma vez que ele bloqueia de forma eficiente a radiação UVB. O grau de pigmentação da pele é outro fator limitante para a produção de vitamina D, por exemplo, peles negras apresentam maior limitação à penetração de raios ultravioleta que as pelas mais claras. A idade também é um fator importante: em pessoas idosas, a síntese é menor que nos jovens.  

Para que ocorra a síntese de quantidade adequada do precursor da vitamina D ativa, é suficiente a exposição de braços e pernas, sem o uso do protetor solar, por cerca de 5 a 30 minutos entre o horário de 10h às 15h, duas vezes por semana. A luz solar é composta por diversos tipos de radiação, sendo os raios ultravioletas do tipo B (UVB) responsáveis por promover a síntese desta substância.

Após a pré-vitamina D ser sintetizada pela pele ou ingerida por meio dos alimentos, ela vai para a circulação sanguínea e, ao passar pelo fígado, recebe uma hidroxila no carbono 25, formando a 25(OH)D ou 25-hidroxivitamina D.  Daí volta para a circulação e, ao passar pelos rins (e, em menor extensão, por outros locais do corpo), recebe outra hidroxilação, agora no carbono 1, sendo assim formada a 1-alfa,25-dihidroxi-vitamina D, também denominada calcitriol, cujo símbolo é 1,25(OH)D, que é a forma ativa da Vitamina D. Esta forma ativa é distribuída pelo organismo por meio do sangue para exercer suas funções no intestino, promovendo a absorção de cálcio, nas células do sistema imune e outros locais. A Figura 1 ilustra as fontes, síntese e funções da vitamina D.

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A emissão da radiação UVB coincide com a emissão da radiação UVA (ultravioleta tipo A), sendo ambos danosos à saúde. Cerca de 4% da radiação que chega à superfície da terra é radiação ultravioleta, a qual é composta, aproximadamente, por 96% de UVA e 4% de UVB. Por este motivo, tem havido intensa recomendação para uso de protetor solar e/ou evitar o sol neste horário. Com isso, por um lado, evita-se a incidência de certos problemas de pele. Mas, por outro, há menor produção de vitamina D pelo organismo, havendo até casos de síntese insuficiente desta vitamina. Este fato chamou a atenção dos pesquisadores devido aos problemas relacionados com sua deficiência, visto que pesquisas identificaram que há pessoas com níveis de vitamina D no sangue abaixo do ideal, até mesmo em países tropicais e ensolarados como o Brasil. Isso indica que as pessoas estão ingerindo quantidade insatisfatória desta vitamina e/ou se protegendo demasiadamente do sol.

Quando a pré-vitamina D é sintetizada pelo organismo, não há risco de intoxicação porque, quando seu nível na pele atinge um patamar elevado, ela começa a ser degradada pela própria luz solar. A intoxicação devido à ingestão por alimentos enriquecidos é polêmica. Alguns autores consideram que há necessidade de ingestão muito elevada para que ocorram problemas. Outros consideram o risco mesmo com baixa ingestão.  O certo é que, se ingerida em excesso, pode causar náuseas, vômitos, perda de apetite e calcificação em locais impróprios no organismo, como no fígado, nos rins e  em outros locais não ósseos. Com base em sua toxidez é que os órgãos internacionais de saúde são cautelosos em recomendar a ingestão de quantidade mais elevada desta vitamina. Sua suplementação oral só pode ser feita com prescrição médica após exame comprovando níveis sanguíneos baixos. Portanto, se proteger do sol sim, mas sem excesso!

|Vitamina D e de seus precursores |

1)  Grupo de origem animal formados a partir do colesterol: 7-desidrocolesterol (provitamina D3) dá origem ao colecalciferol (vitamina D3). Ambos são sintetizados na pele por irradiação da luz solar.

2)  Grupo de origem vegetal ou fungos formados a partir do ergosterol:  o ergosterol (provitamina D2) dá origem ao ergocalciferol (vitamina D2), sem necessidade de luz solar.

3)  Vitamina D ativa. Escrita na forma de 1,25(OH)2D ou 1,25 dihidroxivitamina D. É formada quando o colecalciferol (D2) ou o ergocalciferol (D3) recebem duas hidroxilas. Primeiro uma no carbono 25, que ocorre no fígado, e depois a segunda no carbono 1, que ocorre nos rins.  Em algumas referências encontramos também os símbolos 1,25(OH)D2 e 1,25(OH)D3 para se referirem às vitaminas D ativas provenientes das provitaminas D2 e D3, respectivamente.


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