DISBIOSE E OBESIDADE- Artigos Publicados Nossos Alimentos
Disbiose e obesidadeTaylane Fragoso, Luiz Fernando Miranda da Silva, Karla Silva Ferreira
Sabe-se que o sedentarismo, maus hábitos alimentares, uso excessivo de álcool e estresse estão entre os fatores de risco associados à obesidade. Nos últimos anos, porém, os pesquisadores estão encontrando evidências que apontam que os tipos de bactérias e suas quantidades no intestino podem influenciar no aumento da gordura corporal.
O trato intestinal humano é colonizado, logo após o nascimento, por bactérias que desenvolvem populações relativamente complexas e estáveis. As bactérias da microbiota intestinal são encontradas nos intestinos delgado e grosso. Especificamente no cólon (intestino grosso), as bactérias anaeróbias obrigatórias (que sobrevivem apenas na ausência de oxigênio) superam as bactérias anaeróbias facultativas (que podem viver tanto na presença quanto na ausência de oxigênio). Aproximadamente 30% desta população microbiana pertencente ao Filo Bacteroidetes. Um outro filo de bactérias de interesse para o estudo são as Firmicutes, maioria das quais possui uma parede celular gram-positiva (Trabulsi; Sampaio, 2008; Tortora; Funke; Case; 2006). Este grupo de bactérias parece estar relacionado com o desenvolvimento de obesidade.
A relação entre as bactérias intestinais (microbiota) com a obesidade começou a ser estudada quando alguns cientistas transferiram a microbiota de ratos obesos para ratos magros, e em seguida observaram que os animais com peso normal ganharam peso após a alteração da sua flora intestinal (Duncan et al., 2008).
Evidências apontam que um desequilíbrio da flora intestinal, conhecido como disbiose, pode alterar o mecanismo de armazenamento de gordura corporal e a resposta aos hormônios que controlam a saciedade. Pessoas com excesso de peso apresentam um aumento da relação entre bactérias do tipo Firmicutes e Bacteroidetes quando comparados a indivíduos magros. Esse desbalanço promove o aumento do Fator Adiposo Induzido por Jejum (FIAF) que, por sua vez, aumenta o armazenamento de triglicerídeos, além de diminuir a secreção de hormônios como o GLP1 e o PeptídeoYY, promovendo menor saciedade, e em contrapartida aumento na ingestão de alimentos. Dessa forma, a microbiota é essencial para manutenção da homeostase do metabolismo energético (Crovesy et al., 2017).
A microbiota intestinal está sujeita a rígido controle, e dentre os fatores que contribuem para isso destaca-se a acidez gástrica e a idade. As bactérias do cólon sintetizam vitaminas como biotina, ácido fólico, tiamina, B12 e K e fermentam carboidratos não digeríveis (fibras) em ácidos graxos de cadeia curta que constituem fontes de energia para as células intestinais (Trabulsi e Sampaio, 2008).
As causas da disbiose intestinal são várias, desde o parto até o estresse e estilo de vida. Desta forma, os gatilhos e mediadores relacionados à hipersensibilidade intestinal e disbiose são: o uso de antibióticos e consumo excessivo de álcool, estresse e qualidade de vida, consumo excessivo de açúcar e alimentos industrializados, doenças intestinais, como síndrome do intestino irritável, constipação intestinal, diarreia, infecções por Helicobacter pylori e infecções do trato geniturinário.
Até o momento a dieta é um dos principais fatores que influenciam essa relação microbiota x obesidade. Sendo assim, escolhas alimentares equivocadas podem alterar toda a microbioma intestinal, favorecendo o crescimento de bactérias patogênicas e o desenvolvimento da obesidade. Faz-se necessário a colonização intestinal por bactérias benéficas que auxiliem a digestão e absorção dos nutrientes. O que os pesquisadores esperam é modificar o microbioma intestinal com o uso de probióticos, prebióticos e simbióticos, favorecendo o desenvolvimento de cepas benéficas para a redução do peso (Li et al., 2017; da Silva et al., 2013).
Uma ferramenta empregada para garantir a sobrevivência dos probióticos e garantir a seleção benéfica da microbiota intestinal são os prebióticos, que são os alimentos dos microrganismos benéficos. O termo prebiótico foi empregado por Gibson e Roberfroid, em 1995, para designar “ingredientes nutricionais não digeríveis que afetam beneficamente a saúde do indivíduo que os ingere estimulando seletivamente o crescimento e atividade de uma ou mais bactérias benéficas do cólon, melhorando a saúde do indivíduo”. A principal ação deles é estimular o crescimento e/ou ativar o metabolismo de algum grupo de bactérias benéficas do trato intestinal (Flesch et al., 2014).
O composto formado pela associação de um ou mais microrganismos benéficos (probióticos) com um ou mais de seus alimentos (prebióticos) é denominado simbióticos. Esta associação é importante para garantir a sobrevivência dos probióticos.
Segundo o Regulamento Técnico de 2005 da Anvisa a quantidade de probióticos em um composto simbiótico deve ter quantidade mínima viável (vivos e com capacidade de sobreviver) na faixa de 10⁸ a 10⁹UFC na dose do simbiótico recomendada para ser ingerida diariamente no produto pronto para consumo. UFC é Unidade Formadora de Colônia, que é modo de expressar a quantidade de microrganismos presentes em um produto ou local. A concentração de células viáveis deve ser ajustada na preparação a ser ingerida, levando-se em conta a capacidade de sobrevivência de maneira a atingir o mínimo de 10⁷ UFC do conteúdo intestinal (Stefe et al., 2008). Na Tabela 1 pode-se observar a dose recomendada (UFC) dos probióticos mais utilizados.
Quanto à porção prebiótica, demonstrou-se que 10 g/dia de Frutooligossacarídeos (FOS) constitui dose ideal e bem tolerada, e que 4 g/dia de FOS ou inulina é o mínimo necessário para promover o crescimento de bifidobactérias. Mas é importante ressaltar que estes probióticos e prebióticos podem causar gases.
Referências bibliográficas
Crovesy L et al. Effect of Lactobacillus on body weight and body fat in overweight subjects: a systematic review of randomized controlled clinical trials. Int J Obes (Lond). 2017.
da Silva ST1, dos Santos CA, Bressan J. Intestinal microbiota; relevance to obesity and modulation by prebiotics and probiotics. Nutr Hosp. 2013 Jul-Aug;28(4):1039-48.
Duncan, S. H. et al. Human colonic microbiota associated with diet, obesity and weight loss. Int. J. Obes. v. 32, p. 1720–1724, 2008.
Flesch, A.G.T.; Poziomyck, A.K.; Damin, D.C. O uso terapêutico dos simbióticos. ABCD Arq Bras Cir Dig Artigo de Revisão; 27(3), p. 206-209, 2014.
Li, J et al. Strategies to increase the efficacy of using gut microbiota for the modulation of obesity. Obes Rev. 2017 Jul 25.
Mekkes MC1, Weenen TC2, Brummer RJ3, Claassen E4. The development of probiotic treatment in obesity: a review. Benef Microbes. 2014 Mar; 5 ed, vol 1, p. 19-28.
Stefe, C.A.; Alves, M.A.R.; Ribeiro, R.L. Probióticos, Prebióticos e Simbióticos – Artigo de Revisão. Revista Saúde e Ambiente. 2008; 1 (3): 16-33
Tortora, G. J.; Funke, B. R.; case, C. L. Procariotos: Domínio Bacteria e Archaea. In: MICROBIOLOGIA. 8. ed. São Paulo, SP: Artmed, 2006. p. 305-333.
Trabulsi, L. R.; Sampaio, M. C. Microbiota Normal do Corpo Humano. In: TRABULSI, L. R.; ALTERTHUM, F. Microbiologia. 5. ed. São Paulo, SP: Atheneu, 2008. p. 103- 110.
Turroni, F et al. Molecular dialogue between the human gut microbiota and the host: a Lactobacillus and Bifidobacterium perspective. Cell Mol Life Sci. 2014 Jan; Ed 71, vol 2, p. 183-203.
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