FORMAÇÃO DA MICROBIOTA INTESTINAL - Artigos Publicados Nossos Alimentos
Formação da microbiota intestinalMarcia F. L. Nogueira e Karla Silva Ferreira
Durante anos, as terminologias usadas para se referir à comunidade de micro-organismos presentes no intestino foram: microflora intestinal ou apenas flora. O termo significava pequenas plantas e não estava de acordo com a classificação de bactérias, fungos, vírus e protozoários. O termo recomendado desde então é “microbiota intestinal”, que caracteriza um conjunto de microrganismos presentes nos intestinos.
Nos últimos anos, o interesse pela microbiota intestinal aumentou significativamente devido ao conhecimento da importância que a microbiota intestinal tem sobre a saúde humana e doenças. Cada indivíduo apresenta uma microbiota intestinal única, que é influenciada por diversos fatores, incluindo o contato com ambiente, modo do parto, interações de aspectos genéticos, doenças, estilo de vida, idade, nível de estresse, uso regular de medicamentos como os antibióticos e, principalmente, a alimentação (figura1).
A microbiota de cada indivíduo consiste em uma mistura de microrganismos cuja composição varia ao longo de todo o trato gastrointestinal (figura2). No intestino grosso (ou cólon) ocorre uma concentração maior de microrganismos.
A diversidade da microbiota intestinal advém de um grande número de substratos fermentáveis provenientes da dieta. O que torna uma microbiota saudável é uma maior colonização de bactérias benéficas, que auxiliam em vários processos, como a digestão e absorção de nutrientes, fortalecimento do sistema imunológico e efeito protetor, além do seu papel nutricional, que é importante no impacto da saúde e bem-estar do indivíduo, impedindo o desenvolvimento e colonização de bactérias patógenas (maléficas). Estudos evidenciavam que o trato gastrointestinal de recém-nascidos era estéril no útero e que a primeira colonização e iniciação da microbiota intestinal ocorria durante o processo de parto. No entanto, estudos recentes têm demonstrando a presença de microrganismos na placenta, líquido amniótico e cordão umbilical. Isso mostrou que a formação das colônias de bactérias benéficas e/ou maléficas é iniciada ainda durante a gestação. Estudos demonstraram ainda que a forma de nascimento não tem grande influência sobre o perfil de microrganismos no trato intestinal do recém-nascido, prevalecendo o padrão de microbiota materno.
Vários são os estudos constando a presença de bactérias das espécies lactobacilos, bifidobactérias, enterococos e clostrídios, tanto no útero, na placenta, quanto no líquido amniótico de gestantes e em recém-nascidos. Por este motivo, o tipo de parto não é o principal fator na composição da microbiota intestinal do recém-nascido. O processo de parto expõe recém-nascidos a uma ampla gama de microrganismos que também contribuem para a colonização da microbiota intestinal, mas a principal diferença na microbiota de um recém-nascido de parto normal e por cesariana é na microbiota cutânea.
A microbiota intestinal da criança muda ao longo do primeiro ano de vida e, posteriormente, em resposta a fatores externos, como dieta e uso de antibióticos, o estado de amamentação, desmame e a introdução sucessiva de diferentes tipos de alimentos. Estas condições modificarão a microbiota intestinal infantil e o sistema imunológico, razão pela qual a gestante deve se preocupar com um adequado funcionamento intestinal e alimentação durante todo o período gestacional e também na lactação.
Uma microbiota intestinal inadequada causa diversos problemas de saúde, desde diarreia até alergia alimentar, eczema atópico, doenças inflamatórias intestinais, artrite e certos tipos de câncer. No momento ficam os seguintes alertas:
1) Não use antibióticos desnecessariamente. Os antibióticos matam a microbiota intestinal sem distinção dos microrganismos benéficos ou maléficos.
2) Evite alimentos com conservantes químicos pois muitos conservantes podem matar os microrganismos benéficos.
3) Consuma alimentos ricos em fibras, pois elas são alimentos essenciais para os microrganismos benéficos.
Referências:
BARRETO B.A.P. Microbioma and probiotics: from gut to mars. Braz J Otorhinolaryngol. v.84, p.1-2, 2018. CRESCI G.A, BAWDEN E. Gut microbiome: what we do and don’t know. Nutrition in Clinical Practice, v. 30, n 6, p. 734- 746, dec. 2015.
MAHAN, LK; ESCOTT-STUMP, S. Krause: Alimentos, Nutrição e Dietoterapia. 11ed. São Paulo: Roca, 2005.
ZOETENDAL EG; COLLIER CT; KOIKE, S; MACKIE RI; GASKINS HR. Molecular ecological analysis of the gastrointestinal microbiota: a review. The Journal of Nutrition. v. 134, n. 2, p. 465–472, feb. 2004.
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